Centro de massa no CrossFit: Overhead Squat, Bar Muscle Up e Handstand

Muita gente acha que o problema no Overhead Squat, no Bar Muscle Up ou no Handstand é “falta de força” ou “falta de mobilidade”. Mas, em muitos casos, o que está por trás da dificuldade é o jeito que o centro de massa do corpo se comporta nesses movimentos. Entender isso ajuda tanto professores a prescreverem treinos melhores quanto alunos a sentirem mais controle e segurança na barra e na barra com peso.​

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Renato Koji

12/2/20255 min read

*veja video no Spotify com ilustrações ajudando a entender essas diferenças - https://open.spotify.com/episode/56aw5DnSCVwyzSB1QC0ly8?si=flkGgvOaRq6b_puNQQ3uxg

Muita gente acha que o problema no Overhead Squat, no Bar Muscle Up ou no Handstand é “falta de força” ou “falta de mobilidade”. Mas, em muitos casos, o que está por trás da dificuldade é o jeito que o centro de massa do corpo se comporta nesses movimentos. Entender isso ajuda tanto professores a prescreverem treinos melhores quanto alunos a sentirem mais controle e segurança na barra e na barra com peso.​

O centro de massa é o ponto do corpo onde a massa se “equilibra” e que se move como se todo o peso estivesse concentrado ali. Em esportes e na biomecânica, esse ponto muda de posição o tempo todo, conforme braços, tronco e pernas se movimentam, o que muda também o equilíbrio, as alavancas e o esforço articular.​

Overhead Squat: por que é tão instável?

No Overhead Squat, a regra número um é manter a barra alinhada com o centro de massa do sistema corpo + barra, normalmente sobre o meio do pé. Se a barra fica muito à frente ou muito atrás, o corpo compensa inclinando tronco, abrindo demais o joelho ou “entortando” a lombar, o que gera instabilidade e sobrecarga nos ombros e na coluna.​

Atletas com tronco mais pesado (centro de massa mais alto) tendem a sentir mais exigência de estabilidade de core e ombros, porque qualquer pequena inclinação do tronco muda bastante a projeção desse centro de massa. Já atletas com pernas mais pesadas (centro de massa mais baixo) costumam sentir mais carga em tornozelo e joelho, precisando de muita mobilidade e controle nessas articulações para manter a barra sobre a base sem perder equilíbrio.​

Bar Muscle Up: centro de massa dando a volta na barra

No Bar Muscle Up, muita gente tenta “puxar” o corpo para cima como se fosse um pull up mais forte, e trava na transição. O ponto-chave é lembrar que quem precisa passar pela barra não é só o queixo, é o centro de massa – e isso depende do caminho que quadril, tronco e pernas fazem no kip.​​

Quando o atleta leva o quadril em direção à barra, aproxima o centro de massa do apoio, facilitando que o corpo gire por cima da barra com menos esforço de puxada. Se o core relaxa e as pernas ficam soltas, o centro de massa “cai” para baixo, a trajetória fica mais vertical e o atleta sente que “bate na parede” na hora de girar para a posição de dip.​​

Handstand e HSPU: equilíbrio de pêndulo invertido

No Handstand, o corpo se comporta como um pêndulo invertido apoiado nas mãos, e o centro de massa precisa ficar alinhado sobre a base de apoio (mãos) para que o atleta se mantenha equilibrado. Cada vez que o centro de massa sai dessa linha – por exemplo, quando as costelas abrem, o quadril desloca ou as pernas desalinham – o atleta precisa corrigir usando dedos, punhos, ombros e core para “trazer o corpo de volta”.​​

Em Handstand Push Ups, esse alinhamento é ainda mais importante, porque o movimento de sobe e desce aumenta muito o torque nos ombros e nos punhos. Se o centro de massa está muito “para trás” ou muito “para frente” durante a descida, o atleta perde eficiência e sente que “afunda” sem conseguir empurrar de volta para a posição de equilíbrio.​

Como professores e alunos podem usar essa ideia no treino

Quando professores começam a olhar Overhead Squat, Bar Muscle Up e Handstand com a lente do centro de massa, a correção técnica deixa de ser só “arruma o joelho” ou “fecha a costela” e passa a ter um porquê claro. E, para alunos, entender esse conceito torna mais fácil sentir o que está acontecendo no próprio corpo, em vez de apenas decorar cues soltos.​

Algumas aplicações práticas são:

Overhead Squat: tronco pesado vs pernas pesadas

  • No OHS, o objetivo é manter a barra alinhada com o meio do pé; qualquer mudança no CM do corpo muda quanta inclinação de tronco ou avanço de joelho é necessária para manter a barra sobre a base.​

  • Com tronco mais pesado (CM mais alto):

    • Pequenas inclinações do tronco mudam muito a projeção do CM, gerando grandes momentos em quadril e coluna.​

    • O atleta tende a ter mais demanda de estabilidade de tronco e ombros; qualquer “falha” no core faz a barra sair da linha do meio do pé.​

  • Com membros inferiores mais pesados (CM mais baixo):

    • A massa está mais perto da base de suporte, aumentando a estabilidade, mas pedindo mais mobilidade de tornozelo e joelho para manter a barra alinhada.​

    • Esses atletas geralmente “sentem” mais o quadríceps e o tornozelo, enquanto o tronco não precisa se inclinar tanto para equilibrar o sistema.​

    BMU: alavancas e CM durante o kipping

    • Tronco mais pesado (CM alto):

      • O “pêndulo” principal é o tronco; o atleta precisa controlar muito bem a extensão/flexão de ombro e quadril, porque pequenas variações geram grandes mudanças na trajetória do CM.​

      • Se o core não segmenta bem, o atleta “raspa” na barra ou não consegue projetar o CM suficientemente para cima da barra.

    • Membros inferiores mais pesados (CM baixo):

      • As pernas viram um segmento mais “pesado”, exigindo maior controle no kipping; se o atleta perde tensão de core, as pernas “puxam” o CM para baixo.​

      • Estratégias de encurtar as alavancas (joelhos mais flexionados, pés mais próximos da linha do quadril) ajudam a subir o CM com menos torque no ombro.

    Handstand / HSPU: equilíbrio e torque

  • Tronco mais pesado (CM subindo para o tronco):

    • Qualquer pequeno desvio do alinhamento (ombros que abrem ou fecham, costelas que “saem”) cria grande torque sobre punhos e ombros, aumentando a demanda de força nos dedos e na cintura escapular para controlar o pêndulo.​

    • Em HSPU, a descida cria alta compressão e torque no ombro, porque uma grande parte da massa está longe do ponto de apoio (mãos).​

  • Membros inferiores mais pesados (CM descendo um pouco):

    • O CM se aproxima mais da metade do corpo; o sistema pode ficar ligeiramente mais estável, mas perna pesada aumenta a inércia, exigindo mais controle na entrada (kick up) e nas correções durante o handstand.​

    • Em HSPU estrito ou kipping, pernas mais pesadas tornam o “kip” um recurso mais caro energeticamente, mas também mais útil para gerar momento se o core estiver bem organizado.

  • No Handstand, trabalhar alinhamento progressivo (mãos, ombros, quadril e pés na mesma linha) para que o centro de massa suba e fique sobre a base de apoio, reduzindo o esforço desnecessário.​​

Esse tipo de abordagem cria uma base técnica sólida que beneficia tanto o aluno iniciante, que está aprendendo o básico, quanto o professor que busca argumentos mais técnicos e ao mesmo tempo didáticos para corrigir e programar treinos. Se quiser, é possível expandir cada seção em posts separados, como “Overhead Squat e centro de massa”, “Como o centro de massa destrava seu Bar Muscle Up” e “Handstand estável: o segredo é o centro de massa”